domingo, 30 de agosto de 2009


O Mapa da Violência



SÃO PAULO - A maioria dos homicídios se concentra em apenas 10% dos municípios do País. De acordo com estudo divulgado nesta terça-feira pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), 71,8% dos homicídios no Brasil concentram-se em apenas 556 cidades. Entre 1994 e 2004, o número total de homicídios passou de 32.603 para 48.374, um aumento de 48,4%. No mesmo período, a população brasileira cresceu 16,5%.

Leia a íntegra do relatório
Jornal de Debates: Qual a solução para a violência nas cidades?



São Paulo foi o único Estado do Brasil que conseguiu reduzir os índices de violência nos últimos cinco anos, aponta o estudo. A pesquisa mostra que a criação do Fórum Metropolitano de Segurança Pública, há seis anos, e a conseqüente integração de 39 prefeituras municipais com a Secretaria Executiva do Instituto São Paulo Contra a Violência foram preponderantes para a redução das taxas de agressão.

Pernambuco, Espírito Santo e Rio de Janeiro têm as piores taxas, com cerca de 50 homicídios a cada 100 mil habitantes. Já Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte e Santa Catarina apresentam taxas em torno de 11 ou 12 homicídios a cada 100 mil, isto é, quase cinco vezes menos homicídios que os Estados mais violentos.

Interior do Brasil

Os municípios do interior do País são os que mais registram mortes violentas. A região com maior concentração é a Centro-Oeste. Das 10 cidades com as maiores taxas de mortalidade por homicídio, seis encontram-se nesta região. Destas, quatro estão no Mato Grosso.

De acordo com o mapa, os índices de morte têm aumentado nos pequenos pequenos municípios do interior do País porque a industrialização tardia permite somente agora que surjam novos pólos econômicos. Nas grandes cidades, em média, a taxa de violência está estagnada.

O levantamento, realizado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, revela que proporcionalmente, a maior taxa de mortalidade do País, em 2004, foi a de Colniza, cidade do interior do Estado do Mato Grosso, com população de 12,4 mil habitantes. Enquanto o Brasil registrou, naquele ano, 27,2 homicídios por 100 mil habitantes, em Colniza o registro chegou a 165,3 óbitos por 100 mil habitantes.

A segunda e terceira posições em índices de violência também são ocupadas pela região Centro-Oeste: o município de Juruena, em Mato Grosso, possui média de 137,8 homicídios a cada 100 mil habitantes, e Coronel Sapucaí, em Mato Grosso do Sul, registra 116,4 homicídios por 100 mil habitantes. Serra, no Espírito Santo, e São José do Xingu, também em Mato Grosso, aparecem nas posições seguintes.

Com uma taxa total de 27 homicídios em 100 mil habitantes, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking dos países mais violentos, melhor que a Colômbia e com taxas semelhantes às da Rússia e da Venezuela. As taxas de homicídio de 2004 são até 40 vezes superiores às taxas da Inglaterra, França, Alemanha, Áustria, Japão e Egito.

Terras de ninguém

'Trata-se de cidades que são terra de ninguém, com enormes conflitos pela terra, com os índios, com o desmatamento e a apropriação ilegal de áreas. São regiões muito afastadas, de difícil acesso, onde há ausência de políticas e do poder público', disse o autor do relatório, Julio Jacobo Waiselfisz.

Segundo o pesquisador, o Brasil passa por um 'processo de reconfiguração espacial da criminalidade', caracterizado pela interiorização da violência. Waiselfisz, para quem a violência no país chegou 'a limites insuportáveis', afirmou que, entre as capitais, a cidade com maior taxa média de homicídios foi Recife.

Jovens

O "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros" traz outra constatação preocupante: as vítimas mais comuns dos homicídios são jovens, sendo a maioria negros do sexo masculino. O estudo foi elaborado com base nos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

O mapa indica que a criminalidade cuja vítima são os jovens chega a cifras astronômicas quando comparada às registradas em países desenvolvidos. Entre 1994 e 2004, o número de assassinatos cujas vítimas tinham entre 15 e 24 anos cresceu aproximadamente 64%, o que corresponde a mais de 100 vezes o número de assassinatos de jovens na Áustria e no Japão.

O número de mortes é utilizado pelo estudo como termômetro da violência, já que a maioria das mortes é registrada oficialmente. De acordo com uma pesquisa realizada no Distrito Federal em 1998, só 6,4% dos jovens fazem denúncias à polícia sobre violência física. Apenas 4% dos furtos ou assaltos são registrados e, nos casos de violência no trânsito, 15%.

Violência no trânsito

Outro tema abordado no estudo são as mortes por acidentes de trânsito. No período avaliado (1994-2004), constatou-se um aumento de 20,8% nos óbitos por esta causa. No entanto, houve queda generalizada nas taxas de mortalidade em todas as faixas etárias, com exceção para a que vai dos 20 aos 30 anos. Assim como nos homicídios, os homens são as principais vítimas dos acidentes de trânsito.

Fonte: Site IG_Último Segundo

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